As mudanças sociais se convertem em crise institucional.
Neste texto, deteremo-nos ao problema arqui-essencial de que o modelo de “associação de funcionários de empresas”, ao menos nos moldes como foram criados no Brasil, já é um modelo em crise há muito tempo, com inúmeras associações assemelhadas à ASSERCA já tendo desaparecido ou estando em meio a infinitas disputas judiciais que se arrastam a tempo.
Da mesma forma que ocorreu na segunda metade do século XX com os clubes sociais de bairro, que deram origem a inúmeros clubes de futebol no Brasil, as associações vivem uma crise que decorre em grande parte da mudança dos valores na sociedade, das formas de lazer e da forma como constituídas e mantidas em nossas famílias, e com isso, o significado que damos para elas.
A ASSERCA sempre foi uma associação de empregados da CAEMA para empregados da CAEMA. Apesar de haver previsão estatutária que permite o acesso de pessoas que não são funcionários, trata-se de mais uma letra morta no tosco estatuto sob o qual a associação vive. Embora sempre tenha recebido bem a comunidade, nunca se abriu institucionalmente para ela.
Isso engessou o modelo institucional e reduziu o público possível. Trata-se questão que urge ser tratada num eventual modelo futuro de Associações. Após a questão da comunidade, retornamos à mudança de perfil dos funcionários e dos hábitos sociais
Após décadas de funcionamento e alguns concursos públicos na CAEMA a situação tomou o seguinte rumo: a ASSERCA oferece um tipo de diversão (eventos, alimentação, bebidas, etc.) que atrai um tipo de público que tempos atrás poderia ter consagrado o perfil médio dos funcionários da empresa (faixas etárias, modelos familiares, gosto musical, perfil de consumo de bebidas, etc.); contudo o perfil de Empregados da CAEMA mudou - Não se trata de uma questão qualitativa, de melhor ou pior, e sim da constatação de um simples fato que a Associação, se quiser sobreviver, vai ter que enfrentar.
O lazer hoje é muito mais individualizado e as famílias são menores ou mesmo as pessoas simplesmente não tem interesse em formar famílias, pelo menos não sentido tradicional. Por causa dos concursos públicos, pessoas de lugares sociais diferentes, de gerações diferentes, com finalidades de vida diferentes entraram na Empresa e tem de conviver bem nela. A ASSERCA, como em quase tudo, vai de carona na CAEMA.
Dos quase dois mil servidores da empresa, suponho que por volta de 600 sejam sócios-formais da ASSERCA e uns 200 a 250 sejam sócios frequentadores. É pouco hoje para manter uma associação; sobretudo uma que está na situação financeira critica.
Muitos funcionários simplesmente não tem interesse no tipo de lazer que a associação fornece ou não gostam desse tipo de vinculo social; Em tempos de Internet, manter pessoas interessadas em algo não obrigatório e que gera gastos é um desafio enorme que empresas e instituições buscam entender, mesmo as bilionárias e com públicos cativos.
Uma anedota real para ajudar a entender a situação: outro dia um colega me contava e eu ouvia, aos risos, que foi acusado de estar fazendo bagunça na associação: o que seria a tal bagunça? Pedir para tocar rock. Complicado (e vejamos que até rock n' roll já nem é mais coisa de jovem).
Contudo, para fecharmos de forma mais otimista esse humilde comentário, vejo pontos positivos na Associação que podem abrir-lhe portas de salvação: a boa localização, a existência de estruturas físicas adaptáveis para atividades mais compatíveis com o que a ASSERCA deseja ser no futuro, etc. Quem sabe uma academia de musculação não seria uma boa ideia ? Terceirizando, talvez seja possível.
Enfim, fica a dica e o desejo de que quem estiver na sua direção tenha capacidade de ler os indicativos do futuro e encaminhe-na para essa direção. Em qualquer outra direção, a ASSERCA não vai sobreviver.
Fábio Pereira