Por Luiz Fernandes*
Finanças para crianças: por onde começar?
Cerca de 47% dos jovens entre 18 e 24 anos não têm controle sobre as próprias finanças, mesmo quando têm renda própria, de acordo com a pesquisa do CNDL com o SPC Brasil. Isto quer dizer que quase metade dos jovens não sabe lidar bem com seu dinheiro, o que deve levar ao endividamento e problemas futuros para conseguir crédito, por exemplo.
Atualmente, 67,1% das famílias têm ao menos uma dívida – o maior patamar desde janeiro de 2010, segundo indica a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Para que esse cenário seja diferente no futuro, é essencial introduzir assuntos financeiros na vida das crianças.
Um estudo da University of Cambridge propõe algumas estratégias. Veja as dicas que os pesquisadores britânicos propõem para ensinar os pequenos a lidar com dinheiro.
Em resumo, a educação financeira infantil é importante para ajudar as crianças a aprenderem a desenvolver uma relação mais saudável com o dinheiro no futuro.
Da mesada ao investimento: como ensinar as crianças a guardar dinheiro
Entenda como estimular as crianças a pouparem dinheiro e se tornarem adultos conscientes financeiramente. Você já conversou com as crianças sobre guardar dinheiro? Essa tarefa é mais fácil do que parece – e vale o esforço. Afinal, quem aprende na infância tem maiores chances de desenvolver uma relação mais saudável com o próprio dinheiro.
Um estudo da Universidade de Cambridge mostra que os conceitos e hábitos financeiros são formados até os 7 anos de idade. Ou seja, a consciência sobre dinheiro e as noções sobre como poupar precisam começar cedo, porque é na infância que aprendemos valores que levaremos por toda a vida.
O Brasil ocupa hoje a 17ª posição (entre 20) no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) no quesito competência financeira. Por aqui, a educação financeira só passou a fazer parte do currículo da educação básica em 2019, com a aprovação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os reflexos dessa estruturação tardia são sentidos todos os dias em um país com mais de 63 milhões de endividados.
Então, como ensinar as crianças a guardar dinheiro?
Mais do que falar sobre dinheiro, é fundamental que as crianças entendam a importância de poupar. Para isso, é necessário proporcionar um impacto direto no cotidiano delas com a educação financeira. Vamos ao passo a passo?
1. Dê mesada ou semanada
Não tem como guardar dinheiro se não houver algo para guardar. Crianças não desenvolvem sozinhas o hábito de poupar apenas observando os adultos. Elas precisam ter o próprio dinheiro e aprender a administrá-lo.
Dar mesada é uma forma de proporcionar isso. Estabeleça um valor e explique que elas devem cuidar dele para pagar por aquilo que têm vontade – desde um pirulito até um videogame, por exemplo.
No caso das crianças menores, as semanadas funcionam melhor. Uma pesquisa da Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, publicada no jornal Psychological Science, sugere que crianças de 4 e 5 anos podem não reter a informação na hora em que aprendem. Logo, como crianças pequenas que têm a memória em desenvolvimento e precisam de repetições para processar os aprendizados, as semanadas tendem a funcionar bem. Com as semanadas, as crianças aprendem desde cedo que dinheiro não é infinito e que é preciso planejamento.
2. Ajude-os a estabelecer metas
Toda criança sonha (e muito). Isso é natural, esperado e deve ser estimulado. Na hora em que seu filho pedir uma viagem, um celular (ou algo mais simples, como um brinquedo), estabeleça uma meta em dinheiro guardado para que ela tenha acesso a isso. Não é que a criança necessariamente precisará pagar o preço cheio daquilo que quer – dependendo do caso, o valor pode até ser simbólico. O importante é que ela tenha um objetivo e participe da conquista.
É interessante ter sonhos de curto, médio e longo prazo — lembrando que longo prazo para crianças é relativo, pois elas não têm a mesma paciência que os adultos para desfrutarem dos resultados. Quando essas metas forem atingidas, elas terão um estímulo imediato para continuarem poupando e sonhando.
3. Estimule a criança a poupar uma porcentagem fixa seja uma mesada ou um troco, é interessante ensinar aos pequenos a guardarem sempre uma porcentagem do valor, seja 10%, 20% ou até 50%. O importante, nesse caso, é criar o hábito de guardar.
Se você se perguntou: “por que não tudo?”, a resposta é que isso não seria educação financeira e sim, exagero. É fundamental que as crianças se divirtam e vejam o dinheiro como uma forma de viabilizar coisas bacanas. Caso contrário, a missão de poupar dinheiro não será estimulante.
4. Ensine sobre investimentos
Claro que você não precisa discutir sobre renda fixa ou variável. O importante é mostrar, na prática, que dinheiro pode render. Proponha guardar para a criança parte do dinheiro dela e combine uma data para a devolução. Nesse tempo, aplique o dinheiro em um investimento de baixo risco e retorne com os juros.
Ao receber o dinheiro de volta, a criança vai entender que ele pode render – mesmo que sejam centavos. Aí é a hora de explicar, de forma simples e coerente com a idade, como o dinheiro rende ao ser investido. Formar crianças conscientes financeiramente representa grande parte de formar adultos responsáveis com dinheiro.
Reforçando aqui, que no ano de 2021, o Governo Federal lançou o Programa Educação Financeira nas Escolas, que tem o objetivo de oferecer aos professores cursos gratuitos de formação em educação financeira, para que o tema esteja presente nas salas de aula.
A inclusão do tópico no currículo escolar parte do princípio de que, quanto mais cedo se aprende sobre finanças, maiores as chances de criar hábitos conscientes de consumo e traçar um planejamento de vida mais equilibrado.
Em 2020, o Ministério da Educação tornou obrigatório o ensino sobre educação financeira, fazendo com que as escolas brasileiras atendam às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Com isso, o ensino fundamental deve passar a oferecer o estudo de conceitos básicos de economia e finanças, além de temas como taxas de juros, inflação, aplicações financeiras, rentabilidade, investimentos e impostos. No Ensino Médio, a educação é focada na compreensão de temas mais complexos como o sistema monetário nacional e de outros países.
(*) Enviado por Luiz Fernandes Lopes, Economista
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J. Silva, ITZ/MA